segunda-feira, 28 de setembro de 2020

CANTOS E CANTORIAS DO BRASIL (1) https://www.youtube.com/watch?v=YRHpRmLXEZU * https://www.youtube.com/watch?v=_-vC6K3gYRo * https://www.youtube.com/watch?v=N70QGN0Pp-A * https://www.youtube.com/watch?v=vRi-m_kmRPM

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Bom dia, prezado RAFAELGIL CIMINO, tabelião do 3o Cartório de Notas de São Vicente! Estou a cumprir o que é de minha incumbência: o CNJ da minha mulher Sonia Marinho Costa de Oliveira. Oxalá esteja tudo em ordem; fico-lhe grato pelas suas gentilezas. Abraço! Mozar Costa de Oliveira

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Pico mais elevado do https://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_da_Neblina Picos mais elevados da Espanha https://www.google.com/search?q=picos+mais+altos+da+espanha&oq=&aqs=chrome.0.35i39l8.240933490j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8 *
1) Política no Brasil em 2020 https://www.cartacapital.com.br/opiniao/roberto-amaral-governo-quer-nos-levar-a-condicao-de-colonia/ * 2) Pico mais elevado Brasilhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_da_Neblina Espanha https://www.google.com/search?q=picos+mais+altos+da+espanha&oq=&aqs=chrome.0.35i39l8.240933490j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8 *

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Bom dia, prezado e velho amigo Emilio Palacios! Li com a devida atenção todos os seus sonetos. Irei até ao fim de tudo porque quero sentir mais e mais o sabor da sua veia poética. Já sabia eu que você tem notável gosto e talento nato para ser poeta, e mesmo assim, extasiado, vivi um profundo prazer com a sua leitura. Peço-lhe que continue escrevendo e publicando — será um regalo para muito mais gente. Agora falando sobre a minha vida pessoal: eu tinha algum problema psicológico desde os tempos do “juniorado” na Companhia de Jesus, de modo que me submeti a um bom teste de personalidade com profissional competente. Disse-me ele que a “cura” seria assim: longa, cara e de resultado incerto — percebi com clareza que Deus não me queria como sacerdote; tomei a firme decisão de sair da vida religiosa. Dois anos depois me casei com a Sonia; tivemos três filhas e dois filhos. Formaram-se todos em estudos superiores: a mais velha é médica, a segunda é veterinária; a terceira formou-se em Direito, primeiro homem é delegado de polícia numa cidade perto de Santos e o terceiro, depois de estudar três anos na Inglaterra (Leeds), é professor de inglês no Rio de Janeiro. Eu continuo estudando e escrevendo (espero que dentro de três meses suja publicado o meu quarto livro); os assuntos são filosofia, moral e direito.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Trabalho infantil no Brasil O uso da mão de obra infantil no Brasil tem como objetivo o lucro, pois as crianças costumam ganhar menos que os adultos. No entanto, existe a questão cultural e histórica, expressa em bordões antigos, porém ainda hoje utilizados, como: "trabalho de criança é pouco, mas quem dispensa é louco". O trabalho infantil está presente no imaginário popular brasileiro. Afinal, o filho de uma pessoa escrava já nascia nesta condição. Por isso, nos acostumamos a pensar que uma criança pode exercer um trabalho, por mais pesado que seja. Outra ideia muito estendida é a que aponta o trabalho como alternativa para evitar que crianças e adolescentes ingressem no mundo do crime. A solução, contudo, é a oferta de educação no modelo integral, assistência médica preventiva e curativa e, ainda, acesso ao lazer e atividades culturais.
A desigualdade social no Brasil é um problema que a atinge grande parte da população brasileira, posto porem que nos últimos anos ela tenha diminuído. As regiões mais sofridas com os problemas sociais são o Norte e o Nordeste do país; apresentam os piores do Brasil (Índice de Desenvolvimento Humano IDH's). Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-2011) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam a desigualdade social. Assim, nos últimos anos 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza absoluta e 36 milhões entraram na classe média. Entretanto, estima-se que 16 milhões de pessoas ainda permanecem na pobreza extrema. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as transferências do Programa Bolsa Família são responsáveis por 13% da redução da desigualdade no país. (omissis) Ainda que o Brasil esteja entre os dez países com o PIB mais alto, é o oitavo país com o maior índice de desigualdade social e econômica do mundo. Segundo relatório de ONU (2010) as principais causas da desigualdade social são os seguintes: falta de acesso à educação de qualidade; política fiscal injusta; baixos salários; dificuldade de acesso aos serviços básicos: saúde, transporte público e saneamento básico. Exemplos. Os maiores exemplos de desigualdade social no Brasil (cumpre agradecer à autora deste texto — a professora de história, Juliana Bezerra). A desigualdade social no Brasil, marcada pela distribuição desigual de renda, é evidente. Basta uma simples observação sobre a sociedade em que vivemos: 1. Favelização O cenário habitacional é um forte indício da condição de desigualdade. O aglomerado de casas, em grande parte construídas nos morros, contrasta com as mansões e as casas em condomínios fechados. Muitas vezes localizam-se muito próximas umas às outras, o que torna o contraste ainda mais chocante. As favelas não passam por qualquer tipo de planejamento e as casas tendem a aumentar à medida que as famílias crescem. Por outro lado, isso não acontece com as casas nobres, as quais são cuidadosamente projetadas. 2. Desigualdade alimentar Há pessoas que não têm condições para comer o mínimo necessário. Muitos passam fome, decorrendo daí quadros de desnutrição e muitos casos de mortalidade infantil. Acresce que a prioridade na hora de comprar os alimentos é dada aqueles que sustentam mais, embora nem sempre sejam os mais saudáveis. Por outro lado, existe uma fatia da sociedade cuja quantidade e, especialmente, a qualidade dos alimentos, é garantida diariamente. 3. Falta de saneamento básico A realidade da falta de esgoto sanitário, do tratamento de distribuição de água, entre outros, infelizmente ainda faz parte do cotidiano de milhares de brasileiros. Sujeitas a uma série de doenças, a falta de saneamento básico pode levar pessoas à morte. Esse é um problema presente nas periferias e mais evidente na região norte do Brasil, mas que passa ao lado da classe alta brasileira, em cujos locais habitados e frequentados estão garantidos o tratamento dos esgotos e a coleta do lixo. 4. Ensino de baixa qualidade O acesso às escolas públicas é usufruído pelos que têm menos possibilidades. Isso porque quem pode dispensa o ensino oferecido pelo Estado, cuja condições são muitas vezes precárias, e investe nas escolas pagas. A diferença é marcada pelos salários dos professores, muito superior na rede particular, o que se traduz no incentivo para dar aula. Além disso, a infraestrutura e os materiais disponibilizados nas escolas privadas reforçam as diferenças entre ambas as situações. 5. Menos formação Além da diferença na qualidade do ensino, quem tem mais poder aquisitivo pode completar a educação acadêmica aderindo a cursos, muitas vezes de valor elevado. Os cursos de aperfeiçoamento, bem como as experiências no exterior, são práticas comuns entre os mais favorecidos socialmente. Dos intercâmbios, eles também levam a oportunidade aprender uma segunda língua. Melhor preparados, os mais favorecidos ultrapassam o nível dos que têm menos oportunidades, o que é mais uma prova de desigualdade social. 6. Desemprego Depois de usufruir de um ensino melhor, os candidatos mais qualificados também podem aproveitar um leque de oportunidades de trabalho mais abrangente. Apesar de não ser garantia para conseguir uma vaga no mercado de trabalho, quando não há muitas vagas, o diferencial é o fator de desempate. Além das possibilidades aumentarem, é possível que o valor das remunerações para os mais qualificados também seja superior. Enquanto isso, os menos qualificados fazem “bicos” para conseguir arcar com as despesas diárias. 7. Precariedade na saúde pública Os mais pobres recorrem aos hospitais públicos, deparando com a falta de profissionais e outros. A carência financeira pode ser tão grande que a falta de materiais e de medicamentos se torna uma realidade para as pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto isso, os mais ricos recorrem aos hospitais privados ou clínicas. Neles a gestão de recursos geralmente é mais eficaz e há tecnologia para assistir a necessidade dos seus pacientes. 8. Precariedade no transporte público Os meios de transporte também fazem a diferença na vida das pessoas com mais ou menos renda. A alternativa dos mais carenciados é a utilização de transporte coletivo, muitas vezes, superlotado. Na maior parte do Brasil esse é um serviço ineficiente, principalmente porque não garante acesso a toda a população. Os mais favorecidos recorrem ao seu próprio meio de transporte. Apesar do estresse do trânsito, eles podem planejar de forma mais independente os seus horários e percursos. Garantem também o benefício de poder transportar suas coisas e ir sempre sentado, entre outros. 9. Falta de acesso à cultura A população mais favorecida tem mais oportunidade para usufruir de uma variedade alargada de atividades. São exemplos viagens, concertos e visitas a museus e exposições. Esses acessos, infelizmente, são restringidos a uma grande parte da população brasileira. Isso porque certas atividades têm um grande peso no orçamento de uma família e, assim, entram na lista das prioridades menores, que acabam não sendo usufruídas. Acontece que essas atividades aumentam a qualidade de vida das pessoas, além de que alarga o seu nível cultural. Decorrente, essencialmente, da má distribuição de renda, as consequências da desigualdade social no Brasil são observadas pela: favelização; pobreza; miséria; desemprego; desnutrição; marginalização; violência. [itálico nosso] Estudiosos propõem soluções para o problema, dentre eles: aliar democracia com eficiência econômica e justiça social.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Em memória do bispo emérito de São Félix do Araguaia https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2018-02/90-anos-dom-pedro-casaldaliga.html https://www.google.com/search?q=fotos+da+cidade+de+sao+felix+do+araguaia+mt&oq=foto+de+S%C3%A3o+F%C3%A9lix+do+Araguaia&aqs=chrome.2.69i57j0l3.14337j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8
2) Países com menos desiguais. Os países menos desiguais em todo o mundo, conforme as medições do coeficiente de Gini, são Hungria (0,244), Dinamarca (0,247) e Japão (0,249). Em situação alarmante, além do Brasil e dos demais países mencionados, destacam-se a África do Sul (0,593) e a Namíbia (0,707). O Brasil está em 5º lugar em desigualdade, segundo a ONU: https://nacoesunidas.org/brasil-esta-entre-os-cinco-paises-mais-desiguais-diz-estudo-de-centro-da-onu/ 3) Países com mais igualdade social (segundo medição do Gini). São os seguintes: 1) Dinamarca: 24,7; 2) Japão: 24,9; 3) Suécia: 25,0; 4) República Checa: 25,4 4) Situação do Brasil — história; causas principais; o que fazer e como fazer para diminuir a desigualdade social https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/desigualdade-social.htm https://www.google.com/search?q=hist%C3%B3ria+da+desigualdade+social+no+brasil&oq=hist%C3%B3ria&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l3j46l3.6018j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8 algumas causas da desigualdade social que conhecemos atualmente, particularmente no Brasil são as seguintes: colonização feita pelos países europeus. Colonizaram diversos territórios e populações ao redor do mundo por meio da violência. O Brasil era uma colônia que visava apenas a exploração dos seus recursos naturais. A enorme concentração de renda entre os ricos é uma das características mais marcantes do Brasil. Os números são assustadores: o 1% mais rico recebe quase 25% da renda nacional. Por isso, nada melhor do que contar a história da desigualdade nos últimos cem anos a partir do topo. Será que fomos sempre assim? (omissis) O Brasil seguiu uma trajetória muito diferente do “grande nivelamento” observado nos países ricos, conjugando estabilidade e mudança de um jeito particular. Embora nossa desigualdade seja alta desde o início do século passado, houve muitas idas e vindas, em geral abruptas, coincidindo com os grandes ciclos políticos do país. A análise desses padrões confirma: a desigualdade realmente é diferente quando vista de cima.
Jair Rodrigues https://www.youtube.com/watch?v=57Y09h1s2uE Jair Rodrigues https://www.youtube.com/watch?v=bDvgZLs9mKw * Geraldo Vandré https://www.youtube.com/watch?v=KdvsXn8oVPY https://www.youtube.com/watch?v=KdvsXn8oVPY * https://www.youtube.com/watch?v=wMJCK-Mk6f8 *- https://www.youtube.com/watch?v=91ToL92eG5E * https://www.youtube.com/watch?v=cTMvO5y9BXI * https://www.youtube.com/watch?v=gIkNlSnTm2E Etc....

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

BOEMIA, SAUDADES, ANELOS, POLÍTICA etc. (BRASIL) https://www.youtube.com/watch?v=57Y09h1s2uE * https://www.youtube.com/watch?v=bDvgZLs9mKw * https://www.youtube.com/watch?v=KdvsXn8oVPY * https://www.youtube.com/watch?v=wMJCK-Mk6f8 *- https://www.youtube.com/watch?v=91ToL92eG5E * https://www.youtube.com/watch?v=cTMvO5y9BXI * https://www.youtube.com/watch?v=gIkNlSnTm2E Etc....
Bom dia, prezado e velho amigo Emilio Palacios! Li com a devida atenção todos os seus sonetos. Irei até ao fim de tudo porque quero sentir mais e mais o sabor da sua veia poética. Já sabia eu que você tem notável gosto e talento nato para ser poeta, e mesmo assim, extasiado, vivi um profundo prazer com a sua leitura. Peço-lhe que continue escrevendo e publicando — será um regado para muito mais gente. Agora falando sobre a minha vida pessoal: eu tinha algum problema psicológico desde os tempos do “juniorado” na Companhia de Jesus, de modo que me submeti a um bom teste de personalidade com profissional competente. Disse-me ele que a “cura” seria assim: longa, cara e de resultado incerto — percebi com clareza que Deus não me queria como sacerdote; tomei a firme decisão de sair da vida religiosa. Dois anos depois me casei com a Sonia; tivemos três filhas e um dois filhos. Formaram-se todos em estudos superiores: a mais velha é médica, a segunda é veterinária; a terceira formou-se em Direito, primeiro homem é delegado de polícia numa cidade perto de Santos e o terceiro, depois de estudar três anos na Inglaterra (Leeds), é professor de inglês no Rio de Janeiro. Eu continuo estudando e escrevendo (espero que dentro de três meses suja publicado o meu quarto livro); os assuntos são filosofia, moral e direito.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Bom dia, prezada pessoa responsável pela biblioteca da UNISANTOs! Formei-me em Direito na faculdade de direito da católica de Santos (1961-1965); depois lecionei direito aí mesmo durante 29 anos (graduação e mestrado). Há alguns aposentei-me como desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, de modo que atualmente faço pesquisas e escrevo livros (três já publicados e o quarto quase pronto para publicação). Estou a desfazer-me da biblioteca no que tange a matéria para mim já obsoleta. Filhos e netos meus escolheram os que são dos seus respectivos interesses. Ainda assim, porém, muitos há dos quais pretendo fazer doação. No anexo está a relação deles — se não forem de proveito para a instituição, bem pode ser que aluno, ou aluna, mais pobre se interesse. Cordialmente, Mozar Costa de Oliveira

terça-feira, 8 de setembro de 2020

"De Garça Branca a Flamingo Rosa": Da poeta Inês Rosa Bueno Garça ouve vê garça atenta graça no destino pés n´águas mornas gramíneas tropicais estica pescoço encolhe gira pescoço escolhe perspectivas bico erguido fino utensílio retidão em branco vestida cabelos soltos na maresia sutil pescadora das lagoas silencioso acolhimento no bico apertado come, tesoura. No alto dos Andes, Chungará-Tambo Quemado o vento cortante captura lágrimas gélidas vasculha cachecóis, ponchos, chales, polleras, casacos, gorros e botas. O horizonte roseia... o tempo passa a lagoa muda ouve dos voos assobios longos testemunha dos tempos enquanto a fila não anda. Flamingo de Fronteira Se a garça branca ciscava em águas mornas Ele veste-se de pôr do sol E nele se perfila Enfiando patas descalças n´água frígida, Gramíneas hostis, singulares, desconfiam rígidas vigiam passos, passagens, regressos, egressos. Escrutinam ingressos índios, sombreros, bolívias, o território é chileno a passagem pro mar reconfiscada por Espanha, a Ibérica, é Imperial. Divisa de papéis, documentos, carimbos uniformes sobreviventes de corpo e mente lembram o terror prepotente onipotente. Raciocínio lógico ordenando as partes, os lados, as metades, as medidas calando, revistando, fechando, lacrando, proibindo suave vulcão nevado derrete em erupção entre apitos agudos detendo caminhos, objetando veículos colocando obstáculos. Jamais reverenciam a garça delicada a dobrar joelhos a graça transpondo limites em trêmulo movimento stop-move à caça à pesca à alma alerta liberta.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Querido Mozar Costa de Oliveira: Qué gran sorpresa y alegría saber de ti y de aquellos años felices cursando Filosofía en la Universidad de Comillas. ¿Qué es de tu compatriota Ronald? Eras junto con Manuel Cabada los dos más listos de la clase-¿Te acuerdas de los Padres Alejandro, Cuesta, Muñoz...etc. El tiempo pasa y aquellos años felices y llenos de ilusiones no volverán. Ya he cumplido los 85 años y me agobia el Parkinson. Salí de la Orden, fui primero profesor de Instituto y Después de a segunda Universidad de Sevilla. Ya estoy jubilado .Estoy casado con una mujer maravillosa y tengo una Te adjunto un soneto con los nombres de los 17 compañeros curso y una fotografía en la que faltas tú. Vivo en Sevilla- Me gustaría darte un abrazo infinito. Tu compañero de Comillas José Emilio Palacios
Uma incursão aos diários de Celso Furtado: da tragédia ao “otimismo histórico” Le mort saisit le vif. (Fréderic Lallère, citado por Marx no prólogo da primeira edição do O capital, 1867) A função do conhecimento histórico é deitar luz sobre caminhos a serem percorridos pelos que estão chegando à arena; o futuro é gestado no presente, que, porém, não se livra de seu passado, como lembrava Marx: não são apenas os vivos que nos atormentam, os mortos também. Em outras palavras, somos (ou seremos) o que fizemos. Ao lado das contingências estruturais, das leis tendenciais da história e das figuras coletivas e populares, há o imprescindível papel da vontade individual. É o campo dos grandes líderes (aqueles que compreendem o processo histórico) e dos grandes pensadores, capazes mesmo de alterar o aparente curso natural dos acontecimentos. São quase sempre intelectuais orgânicos que se apartam de sua origem pequeno-burguesa, abraçam a defesa dos interesses das grandes massas e dedicam a vida a um projeto de país e sociedade em contraste com o statu quo. São políticos, estadistas, pensadores, pioneiros, contestadores da ordem dominante, os lutadores de toda a vida. A galeria dos brasileiros com tais atributos é modesta, mas em qualquer seleção, a mais severina, figurará com destaque, no século XX, olhando para a frente, a vida-obra de Celso Furtado, unidade indissolúvel. O autor de Formação econômica do Brasil, obra seminal, indispensável para qualquer tentativa de compreensão do problema-Brasil, se destaca, entre os poucos pares, por haver procurado a economia para melhor compreender a história e, assim, e por essa via, tornar-se um humanista, no sentido mais rigoroso da palavra. Homem de seu século, aceitou o desafio de tornar-se sujeito consciente da história, consciente das consequências dessa decisão, a primeira e a mais cara de todas sendo a renúncia à vida privada e projetos pessoais. Tinha presente a advertência de Platão: “Aqueles que controlam o poder – os governantes e os guerreiros – teriam de renunciar às ideias de família e propriedade”. Furtado diz que o problema fundamental de sua vida é a preocupação com os problemas do “homem geral”: “Toda a minha vida tem sido marcada por essa preocupação, como se me sentisse responsável pela pobreza, pelos sofrimentos dessa pobreza, pela condição de animalidade em que vive grande parte da humanidade”. Liberto de condicionantes religiosos, explica: “O que me preocupa é a deformação, a abjeção humana provocadas pela organização social baseada na exploração econômica ou dominação política de muitos por poucos”. Cedo, no início de sua formação, ainda estudante no Recife, ou recém chegado ao Rio para o curso de direito, Celso, como assinalou João Antonio de Paula, está obsedado pelo desafio de responder à interrogação fundante: “o que é o Brasil, como entendê-lo, como fazer para transformá-lo, para superar seus impasses e suas crônicas iniquidades”. Cedo sabe que o homem é quem traça o seu destino, decide-se a fazer escolhas. Arquiteto de sua própria vida, antevê seu papel – contribuir para revolver as estruturas arcaicas –, e a esse objetivo condiciona sua existência. É admirável a firmeza de proposito, a clareza de objetivos que marca sua vida, como uma linha reta. Constrói-se como o mais importante intelectual público de sua geração, e, dentre aqueles que se dedicaram a pensar o Brasil deixa a mais extensa bibliografia, a que não faltou, ao lado das incursões teóricas, da formulação de interpretações e formulação de esquemas históricos, a intervenção no dia a dia da política, do mundo real. Não recuou nos embates, seja lá trás no enfrentamento ao latifúndio no nordeste, seja no ministério enfrentando as forças do passado que se opunham ao desenvolvimento nacional. Seja na cátedra, seja nos seus muitos livros, escritos como peças de artilharia no combate ao atraso, no Brasil e na América Latina a cujo desenvolvimento dedicou o melhor de sua vida. Durante anos seguidos fustigou a política econômica da ditadura e, quando se pensava que a Nova República reconstruiria o Brasil, aliou-se a jovens economistas de oposição como Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Beluzzo na formulação de programa econômico para o frustrado governo Tancredo Neves. Voltando-se ao estudo do subdesenvolvimento, rejeitou as teses fatalistas; o subdesenvolvimento não era uma etapa necessária para o desenvolvimento capitalista. Escreverá: “as enormes disparidades das condições de vida não constituem apenas um fenômeno econômico; mas político e social”, porque “o excedente é um fenômeno social produzido por toda a sociedade, mas apropriado por alguns. É na apropriação do excedente que geralmente damos conta da política de um país”. No caso de Celso Furtado, mais do que a de qualquer outro intelectual brasileiro, há uma fusão entre vida e obra, e, para harmonizá-las, o pensador também se fez político e homem de Estado: jornalista, escritor, economista, historiador, professor, memorialista, ministro, embaixador. No quarto aniversário do golpe de 31 de agosto de 2016, neste ano e meio de bolsonarismo, procuro nutrir as esperanças envelhecidas na leitura de Diários intermitentes de Celso Furtado, obra que a inteligência brasileira – aquela voltada para o esforço de compreender este país e suas tragédias – deve à paixão e à lucidez, à competência e à dedicação sem fim de Rosa Freire D´Aguiar, jornalista, escritora, pesquisadora incansável. O texto no qual me fixo é do distante 1979, e Celso toma do seu diário no dia de natal. Começara naquela altura a longa agonia do regime militar, velho de 15 anos, que ainda nos afligiria por seis anos, não se sabia então. O “Brasil potência” do “milagre econômico” dera com os burros n´água. Vivíamos e sofríamos sob o governo do general Figueiredo, aquele que detestava o povo e adorava o fartum das baias onde reabastecia as energias perdidas com os fazeres da presidência. A dramaticidade da fotografia de Furtado está em sua atualidade, passados 41 anos! Leiamos: “Que quadro tão melancólico é o que nos apresenta este país. A situação econômico-financeira é extremamente grave, mas o governo não faz outra coisa senão enganar o povo. E também enganar os empresários, aparentemente desejosos de se deixar enganar, ou pelo menos temerosos de ver a realidade. [...] E ninguém dá maior atenção a tudo isso. O objetivo único é conservar o poder e dar a impressão de que o país somente irá adiante se essa impostura de política liberal é mantida. Que pretende essa gente? Provocar o caos para impor uma camisa de força ao povo, agravar a concentração de renda, aprofundar a miséria do povo? Até quando se prestarão os militares a servir de instrumento a essa gente? E que opção se poderia apresentar a tudo isso? As oposições estão fragmentadas e absorvidas pelo jogo da pequena política”. O governo militar, como se sabe, sobreviveria por mais seis anos, ditaria as condições de sua retirada de cena (uma delas, a impunidade dos torturadores) e estabeleceria os limites da constituinte. O regime decaído, na estranha conciliação dos príncipes, sobreviveria no governo civil da redemocratização, e os generais seriam tutores, monitores e curadores do governo da nova república, chefiado por José Sarney, o presidente da Arena, o partido da ditadura. Uma vez mais os tempos passados pressagiando os tempos que estavam por vir, e que estamos a viver. A dura leitura que Celso faz daqueles idos não é impressionista; ele voltaria ao tema no dia seguinte, e, pelo que escreve, parece estar olhando para nossos dias. Qual descrição mais realista dos tempos de hoje poderia sobrepor-se a essas linhas, escritas há tantos anos, originalmente destinadas ao resguardo histórico? Vejamos: “[...] Agora as coisas são ainda piores do que na fase pré-64, porque o centro da cena está ocupado por militares ignorantes ou maquiavélicos e por tecnocratas travestidos de estadistas e aventureiros disfarçados de tecnocratas. Engana-se o povo da maneira mais descarada”. O conhecimento da história, não é um fim, tão pouco a história se congela, ainda que o reacionarismo larvar – bactéria presente em toda a história da humanidade – tudo encete para prorrogar o passado. A emergência do presente, é inelutável, principalmente quando dispõe da força do homem para acioná-la. Mudar a história, todavia, é engenho e arte que na política se traduz por organização e liderança. No momento carecemos de ambas. E as grandes lideranças não são fruto do acaso, não nascem do nada, nem caem dos céus como as chuvas. São sempre produto histórico-social. Entre nós a emergência de grandes lideranças populares tem sido avara, e contam-se nos dedos de uma mão quantas na República surgiram, para conhecer seu crepúsculo quando mais delas o processo histórico aguardava intervenção. Não obstante, não há por que perder a esperança – e muito menos ensarilhar as armas – quando estamos sustentados por aquilo que Celso chamava de “otimismo histórico”, atribuindo-o à sua formação “meio marxista, meio positivista”. Lúcio Kowarick A inteligência brasileira perdeu no dia 24 deste agosto, que felizmente vai embora, o brilho e a inteligência de Lúcio Kovarick, certamente o mais importante sociólogo brasileiro voltado ao estudo da questão urbana, a que dedicou toda a sua brilhante vida acadêmica, que a ele sobreviverá graças à prolífera produção: pesquisas, dissertações, teses e livros: A espoliação urbana; Trabalho e vadiagem; São Paulo 1975: crescimento e pobreza; Conflitos Sociais e a Cidade a viver em risco, Escritos urbanos. Sua obra circula ainda pela América Latina, onde é lida e estudada. Era um scholar, e uma admirável figura humana. As circunstâncias me fizeram seu aluno e orientando. Sou-lhe grato pelo que me ensinou. O que não aprendi se deveu às minhas circunstâncias. ______________ Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia
TRAS LARGOS AÑOS DE ADOCTRINAMIENTO Y ESTUDIOS, Y FINALIZADOS LOS TRES CURSOS DE FILOSOFÍA, LOS AÚN ALEVINES DE JESUITA ÉRAMOS DESTINADOS A LOS COLEGIOS DE LA ORDEN PARA EJERCER COMO “MAESTRILLOS” DURANTE TRES AÑOS. DE ESTA FORMA, AL MISMO TIEMPO QUE SE NOS SOMETÍA A UNA NUEVA PRUEBA, SE ABRÍA PARA NOSOTROS LA OPORTUNIDAD DE PONERNOS POR PIRMERA VEZ EN CONTACTO CON EL MUNDO AL QUE, A TRAVÉS DE LA ENSEÑANZA, HABÍAMOS DE COMUNICAR NUESTROS CONOCIMIENTOS Y NUESTRA FE. LO CUAL SIN DUDA GENERABA EN NOSTROS ILUSIONES Y HALAGUEÑAS EXPECTATIVAS. PERO, COMO CONTRAPARTIDA, NOS SEPARABA DE NUESTROS ÚNICOS Y ENTRAÑABLES COMPAÑEROS DE TAN PROLONGADA CONVIVENCIA Y DE TANTOS IDEALES COMPARTIDOS, AMIGOS VERDADEROS Y, EN FIN, PARÁCTICAMENTE DE TODA LA VIDA. CON OBJETO DE RETENER EN LA MEMORIA SU RECUERDO, NO SE ME OCURRIÓ MEJOR COSA QUE COMPONER UN “SONETO”, COMO UNA DE LAS MÁS NOBLES FORMAS DE POEMA, EN EL QUE VINIERAN NOMBRADOS LOS DIECISIETE COMPAÑEROS Y ALGUNA DE SUS PERIPECIAS CON AFECTO Y HUMOR Y QUE PUDIERAN CABER EN 14 VERSOS DE ARTE MAYOR, EN REFERENCIA A LA PROMOCIÓN QUE FINALIZÓ EN COMILLAS LOS ESTUDIOS DE FILOSOFÍA EN EL CURSO 1958-1959. DICE ASÍ: Vasco intrépido, ALTUNA abre la lista. Le siguen SUSO, RONALD y RAMIRO. Mas, si cito a tres pájaros de un tiro, no olvido que cada uno es un artista. Brilla en COSTA y CABADA luz “tomista”, pero en MARCIAL y EL ODRI igual admiro que se den a valer con otro giro, pues, si uno “arregla-todo” otro conquista. Vuela el “ángel” de CALO entre estos nombres, “Compañía” cabal, curtida gente: AVELINO, CHEFE, OLMO y TOÑO “el calvo”. Broche de oro nos traen tres “superhombres”: RANDULFE, PRIMITIVO Y DE LA PUENTE. ¡JOSEMILIO, el “soneto” ya está a salvo!
Querido amigo JOSE EMILIO PALACIOS ESTEBAN, muy buenas noches! Yo me he aprendido bastante bien el castellano, pero ahora desgraciadamente lo he olvidado case todo. Sali de la orden médio año despues de llegar al Brasil – ciertamente no tenia vocación para la vida religiosa.. He echo estúdios de Derecho e luego empezé la carrera de juez; también yo estoy jubilado hace ya muchos años. Ahora escribo artículos y libros sobre sociologia y derecho. Estudiar y pesquisar són pasiones desde los tiempos de juventud. Vivo en la ciudad de Santos, um importante puerto marítimo del hemisfério sur. Ronald ha sido el mejor amigo de mi vida, pero murió hace 3 años por causa de cancer. Aun mantengo cambio de cartas con la viúda, las dos hijas y um hijo. No he podido abri tu soneto; mi secretaria lo hará por mi en la semana prójima. Heres un poeta por vocación; te pido que me envies mas poemas suyos. Abrazo con el tamaño de España! Mozar

domingo, 6 de setembro de 2020

Este vídeo “O INSTINTO IMORTAL”, domingos de setembro, 2020, é mais uma composição filosófico-poético do advogado penalista Vicente Fernandes Cascione, de quem fui colega de classe durante o curso de Direito em Santos (1961-1965); escreve ele todos os domingos na derradeira página do anexo de “A TRIBUNA”, Santos. O INSTINTO IMORTAL Era um trem verde-escuro. Junto às portas de cada vagão havia uma pequena bandeira da Suíça. Juntei as malas, capotes nos ombros, pés doloridos, caminhei pela plataforma. Aquele era o trem para Paris, partindo de Veneza, numa tarde de domingo cheia de solidão. Ainda pude olhar a noite descendo sobre o canal defronte da estação, onde algumas lanchas iam e vinham agitando as águas escuras. Era possível ouvir no ar o som de um lamento, como a voz da própria cidade, feita de amores trágicos, de traição e de mistério. O trem partiu, arrastando com ele restos de mim mesmo, não deixados perdidos nos campos de Verona, nas colinas de Vicenza, nas névoas dos Apeninos azuis, nos velhos corredores da Escola de Direito de Pádua ou nas vielas estreitas de Veneza. E enquanto a velha Torre de São Marcos seguia para o horizonte, afastando-se sem nenhum sentimento de gratidão, eu pude ver ser aquele um trem triste, pois triste é um trem carregando pessoas sem o desejo de partir. O meu trem era feito de adeus. De despedidas. De desencontros. Em verdade, meu trem era horrível...` Na cabina, à minha frente, estava uma velhinha, carregada de sanduíches, bombons e vinho. A seu lado, um “carabinieri”. E, junto a mim, uma viúva, ainda moça. Não era difícil adivinhar sua viuvez em seu traje negro, e em seus olhos, negros também, onde havia o vazio de todas as lágrimas já choradas. Éramos nós quatro. Mudos. Sisudos. Olhares cruzados. A velhinha impregnou o ar com um traço de dignidade humana. Ofereceu-nos vinho e bombons. Negativos e silenciosos movimentos de cabeça foram o tosco agradecimento de nós três, ali. Em uma pequena estação da Suíça o trem parou. Fazia muito frio. Desceram o soldado e a viúva. Puxei assunto com a pobre velha. Pobre sim. Como ninguém. Perdera a filha, o genro e os três netos, mortos numa trágica avalancha na cidade de Longarone. Nunca mais ninguém os encontrou sob a lama de Vajont. Agora a triste mulher viaja. Vai a esmo. Sem destino. Vai aonde lhe possam levar os trens tristes como aquele... Não sei se ela disse mais. Fazia frio e eu dormi no banco vazio. Ao despertar, antes de enxergar lá fora a alvorada brumosa, vi, estendido sobre mim, um xale de lã bem usado. Era o agasalho usado pela doce velhinha. Algumas folhas de jornais também, para eu não sentir frio, enquanto ela dormia, muito encolhida. Lá fora, o Sena mostrava o caminho para Paris deslizando pelos campos molhados da madrugada. Aquela mulher descobrira-se para aquecer este melancólico viajante. Quando desci do trem, eu tinha a alma em frangalhos pelo remorso de, ao despedir-me dela, não ter lhe beijado as mãos. E de não sair aos gritos pela escura estação de Paris naquela madrugada agonizante, para proclamar, aos bêbados, aos notívagos e aos viajantes da primeira hora, o gesto sublime daquela mulher solitária, caminhante curvada sob o peso dos anos e da dor. Mesmo tendo sido roubada dos bens mais valiosos de seu afeto, ainda assim, ela tinha tanto para dar, pela grandiosidade suprema capaz de redimir o mundo: o imortal instinto da maternidade. Aquela italiana, envelhecida e cansada, era talvez uma santa, a atender às preces de minha mãe distante, em favor deste cabeça-de-vento morto de frio nos trens tristes, verdes, escuros, portadores das dores e das saudades, de Veneza para Paris.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

 


Roberto Amaral: Uma incursão aos diários de Celso Furtado

Foto: Reprodução

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Autor de Formação Econômica do Brasil se destaca por ter procurado a economia para melhor compreender a história

A função do conhecimento histórico é deitar luz sobre caminhos a serem percorridos pelos que estão chegando à arena; o futuro é gestado no presente, que, porém, não se livra de seu passado, como lembrava Marx: não são apenas os vivos que nos atormentam, os mortos também. Em outras palavras, somos (ou seremos) o que fizemos.

Ao lado das contingências estruturais, das leis tendenciais da história e das figuras coletivas e populares, há o imprescindível papel da vontade individual.

É o campo dos grandes líderes (aqueles que compreendem o processo histórico) e dos grandes pensadores, capazes mesmo de alterar o aparente curso natural dos acontecimentos. São quase sempre intelectuais orgânicos que se apartam de sua origem pequeno-burguesa, abraçam a defesa dos interesses das grandes massas e dedicam a vida a um projeto de país e sociedade em contraste com o statu quo. São políticos, estadistas, pensadores, pioneiros, contestadores da ordem dominante, os lutadores de toda a vida.

A galeria dos brasileiros com tais atributos é modesta, mas em qualquer seleção, a mais severina, figurará com destaque, no século XX, olhando para a frente, a vida-obra de Celso Furtado, unidade indissolúvel.

O autor de Formação econômica do Brasil, obra seminal, indispensável para qualquer tentativa de compreensão do problema-Brasil, se destaca, entre os poucos pares, por haver procurado a economia para melhor compreender a história e, assim, e por essa via, tornar-se um humanista, no sentido mais rigoroso da palavra.

Homem de seu século, aceitou o desafio de tornar-se sujeito consciente da história, consciente das consequências dessa decisão, a primeira e a mais cara de todas sendo a renúncia à vida privada e projetos pessoais. Tinha presente a advertência de Platão: “Aqueles que controlam o poder – os governantes e os guerreiros – teriam de renunciar às ideias de família e propriedade”.

Furtado diz que o problema fundamental de sua vida é a preocupação com os problemas do “homem geral”:

“Toda a minha vida tem sido marcada por essa preocupação, como se me sentisse responsável pela pobreza, pelos sofrimentos dessa pobreza, pela condição de animalidade em que vive grande parte da humanidade”. Liberto de condicionantes religiosos, explica: “O que me preocupa é a deformação, a abjeção humana provocadas pela organização social baseada na exploração econômica ou dominação política de muitos por poucos”.

O autor de Formação Econômica do Brasil  se destaca, por haver procurado a economia para melhor compreender a história

Cedo, no início de sua formação, ainda estudante no Recife, ou recém chegado ao Rio para o curso de direito, Celso, como assinalou João Antonio de Paula, está obsedado pelo desafio de responder à interrogação fundante: “o que é o Brasil, como entendê-lo, como fazer para transformá-lo, para superar seus impasses e suas crônicas iniquidades”. Cedo sabe que o homem é quem traça o seu destino, decide-se a fazer escolhas.

Arquiteto de sua própria vida, antevê seu papel – contribuir para revolver as estruturas arcaicas –, e a esse objetivo condiciona sua existência. É admirável a firmeza de propósito, a clareza de objetivos que marca sua vida, como uma linha reta.

Constrói-se como o mais importante intelectual público de sua geração, e, dentre aqueles que se dedicaram a pensar o Brasil deixa a mais extensa bibliografia, a que não faltou, ao lado das incursões teóricas, da formulação de interpretações e formulação de esquemas históricos, a intervenção no dia a dia da política, do mundo real.

Não recuou nos embates, seja lá trás no enfrentamento ao latifúndio no nordeste, seja no ministério enfrentando as forças do passado que se opunham ao desenvolvimento nacional. Seja na cátedra, seja nos seus muitos livros, escritos como peças de artilharia no combate ao atraso, no Brasil e na América Latina a cujo desenvolvimento dedicou o melhor de sua vida.

Durante anos seguidos fustigou a política econômica da ditadura e, quando se pensava que a Nova República reconstruiria o Brasil, aliou-se a jovens economistas de oposição como Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Beluzzo na formulação de programa econômico para o frustrado governo Tancredo Neves.

Voltando-se ao estudo do subdesenvolvimento, rejeitou as teses fatalistas; o subdesenvolvimento não era uma etapa necessária para o desenvolvimento capitalista. Escreverá: “as enormes disparidades das condições de vida não constituem apenas um fenômeno econômico; mas político e social”, porque “o excedente é um fenômeno social produzido por toda a sociedade, mas apropriado por alguns. É na apropriação do excedente que geralmente damos conta da política de um país”.

No caso de Celso Furtado, mais do que a de qualquer outro intelectual brasileiro, há uma fusão entre vida e obra, e, para harmonizá-las, o pensador também se fez político e homem de Estado: jornalista, escritor, economista, historiador, professor, memorialista, ministro, embaixador.

No quarto aniversário do golpe de 31 de agosto de 2016, neste ano e meio de bolsonarismo, procuro nutrir as esperanças envelhecidas na leitura de Diários intermitentes de Celso Furtado, obra que a inteligência brasileira – aquela voltada para o esforço de compreender este país e suas tragédias – deve à paixão e à lucidez, à competência e à dedicação sem fim de Rosa Freire D´Aguiar, jornalista, escritora, pesquisadora incansável.

O texto no qual me fixo é do distante 1979, e Celso toma do seu diário no dia de natal.

Começara naquela altura a longa agonia do regime militar, velho de 15 anos, que ainda nos afligiria por seis anos, não se sabia então. O “Brasil potência” do “milagre econômico” dera com os burros n´água. Vivíamos e sofríamos sob o governo do general Figueiredo, aquele que detestava o povo e adorava o fartum das baias onde reabastecia as energias perdidas com os fazeres da presidência.

A dramaticidade da fotografia de Furtado está em sua atualidade, passados 41 anos! Leiamos:

“Que quadro tão melancólico é o que nos apresenta este país. A situação econômico-financeira é extremamente grave, mas o governo não faz outra coisa senão enganar o povo. E também enganar os empresários, aparentemente desejosos de se deixar enganar, ou pelo menos temerosos de ver a realidade. […] E ninguém dá maior atenção a tudo isso. O objetivo único é conservar o poder e dar a impressão de que o país somente irá adiante se essa impostura de política liberal é mantida. Que pretende essa gente? Provocar o caos para impor uma camisa de força ao povo, agravar a concentração de renda, aprofundar a miséria do povo? Até quando se prestarão os militares a servir de instrumento a essa gente? E que opção se poderia apresentar a tudo isso? As oposições estão fragmentadas e absorvidas pelo jogo da pequena política”.

O governo militar, como se sabe, sobreviveria por mais seis anos, ditaria as condições de sua retirada de cena (uma delas, a impunidade dos torturadores) e estabeleceria os limites da constituinte. O regime decaído, na estranha conciliação dos príncipes, sobreviveria no governo civil da redemocratização, e os generais seriam tutores, monitores e curadores do governo da nova república, chefiado por José Sarney, o presidente da Arena, o partido da ditadura.

Uma vez mais os tempos passados pressagiando os tempos que estavam por vir, e que estamos a viver.

A dura leitura que Celso faz daqueles idos não é impressionista; ele voltaria ao tema no dia seguinte, e, pelo que escreve, parece estar olhando para nossos dias. Qual descrição mais realista dos tempos de hoje poderia sobrepor-se a essas linhas, escritas há tantos anos, originalmente destinadas ao resguardo histórico?

Vejamos:

“[…] Agora as coisas são ainda piores do que na fase pré-64, porque o centro da cena está ocupado por militares ignorantes ou maquiavélicos e por tecnocratas travestidos de estadistas e aventureiros disfarçados de tecnocratas. Engana-se o povo da maneira mais descarada”.

O conhecimento da história, não é um fim, tão pouco a história se congela, ainda que o reacionarismo larvar – bactéria presente em toda a história da humanidade – tudo encete para prorrogar o passado. A emergência do presente, é inelutável, principalmente quando dispõe da força do homem para acioná-la. Mudar a história, todavia, é engenho e arte que na política se traduz por organização e liderança. No momento carecemos de ambas. E as grandes lideranças não são fruto do acaso, não nascem do nada, nem caem dos céus como as chuvas. São sempre produto histórico-social. Entre nós a emergência de grandes lideranças populares tem sido avara, e contam-se nos dedos de uma mão quantas na República surgiram, para conhecer seu crepúsculo quando mais delas o processo histórico aguardava intervenção.

Não obstante, não há por que perder a esperança – e muito menos ensarilhar as armas – quando estamos sustentados por aquilo que Celso chamava de “otimismo histórico”, atribuindo-o à sua formação “meio marxista, meio positivista”.